Ibovespa: corram para as colinas





A conta chegou. No dia 23 de julho de 2015, o Ibovespa concluiu sua 5ª queda consecutiva zerando todo o ganho do ano, trabalhando abaixo de um importante ponto psicológico nos 50.000 pontos pela primeira vez desde março. O fato de zerar os ganhos nos remete a uma sensação ainda maior de desconforto. O sentimento é de que a fonte secou, o dinheiro da carteira se foi ou a “gordura” acabou.

Pensando nisso, optei estudar alguns indicadores de mercado que são fundamentais para avaliação do mercado brasileiro sob o ponto de vista do risco. São aqueles índices que o mercado toma como referência sempre quando há um prenúncio de pânico no mercado. Será que estamos diante de um precipício?

O Índice Bovespa segue firme na sua tendência de baixa e o fato de trabalhar abaixo dos 50.000 pontos abre caminho para um novo teste na faixa dos 46.500 pontos pelo lado técnico, ou seja, pode voltar a testar a mínima do ano. Para evidenciar a tendência de baixa atual, eu resolvi estudar o comportamento do CDS (Credit Default Swaps – Risco Pais), do dólar, dos juros futuros e do principal “índice do medo”, o Índice Vix atrelado ao EWZ.

Nos mercados mais dinâmicos, o dinheiro tem vida. A capacidade e a velocidade dos seus participantes mudarem de posição é intensa, mas para isso é preciso ter plena consciência de todos os riscos.


CDS – Credit Default Swaps – “Risco País”


É derivativo de crédito. Muito importante para a avaliação do país arcar com sua dívida, isto é, o risco de dar um “default”. Esse dado é o mais alarmante do momento, por isso, é o primeiro que vou destacar. O gráfico mostra uma clara tendência de alta e, pelo movimento técnico, temos toda a condição para, não só buscar a máxima do ano nos 367.68 (Março de 2015), mas também para atingir, na sequência, o maior nível desde março de 2009.

Não vou me aprofundar no tema “crise de 2008”. Avalio que o risco, hoje, está voltado para o âmbito doméstico com menor influência do exterior. Na época, o maior temor foi por conta do sistema financeiro internacional – a crise do subprime.

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A avaliação das agências de risco é um pouco diferente da que é praticada nos CDS, pois os elementos considerados não são puramente técnicos. Como, por exemplo, uma crise de confiança. Já a precificação dos CDS é feita de acordo com as condições de mercado que engloba uma visão macro de todos os agentes. Embora tenham cálculos diferentes eles nos dão a real percepção do quão delicada é a situação do mercado brasileiro. Sem menosprezar a grave crise de 2008, se tirarmos esse fator estaríamos em níveis de novembro de 2005. Neste período, os títulos de crédito soberanos brasileiros sequer tinham GRAU DE INVESTIMENTO.

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Juros Futuros


Estão interessantíssimos. Como é possível a curva de juros com vencimento para janeiro de 2017 estar maior que a curva de juros de janeiro de 2021? Esse é um fenômeno chamado de Curva de juros invertida. É reflexo do aumento da inflação acompanhada por baixíssimos níveis de confiança na economia.

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Existe uma questão pontual sobre a decisão do COPOM que virá na próxima quarta-feira (29), mas a grande realidade é que os investidores estão colocando em questão todo o processo de condução dos ajustes fiscais e isso tem exigido rendimentos muito maiores no curto prazo do que no longo.
Dólar

A “moeda do mundo” segue firme na sua tendência de alta e na sexta-feira passada atingiu o maior nível desde abril de 2003 - outro indicador de grande relevância que traz uma autêntica percepção de risco (alto). E o investidor não quer saber porque ele sai de qualquer ativo de risco e corre para o dólar. Isso não tem sido diferente desde quando a moeda americana iniciou a tendência de alta a partir de agosto 2013 até hoje.

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A última vez que pude perceber uma inclinação tão forte assim foi nas crises de 1999 e 2002. Logo, nada me surpreende se o dólar não só testar, como ultrapassar a barreira dos 4 reais.


VXEWZ - Índice VIX aplicado o EWZ


EWZ é o IShares MSCI Brazil, isto é, um fundo ETF negociado em bolsa nos EUA. O objetivo deste fundo é fornecer resultados de investimentos que correspondam ao índice MSCI Brazil 25/50. Em outras palavras, é um fundo que replica o Ibovespa. O índice VIX é um dos indicadores que o mercado americano mais confia. É conhecido também como o “índice do medo”, pois reflete a sensação dos investidores interessados em negociar no mercado de derivativos (mercado de opções) sobre algum índice em referência, neste caso o EWZ.

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Recentemente, ocorreu uma considerável alta repentina e estamos muito próximos aos níveis de topo do “rally eleitoral”, momento em que o medo circulava no mercado a respeito da reeleição da situação.


A volatilidade à espreita


É notável que a situação doméstica está muito conturbada. Os investidores estão correndo para zona de segurança e não há nenhum “indicador de crise” que possa acalmar os ânimos no curto prazo. Através dos gráficos aqui apresentados, o resultado é que estamos voltando no tempo e nos remetendo às situações macroeconômicas de 10 anos atrás, no mínimo. O quadro mais preocupante é que mesmo com essas situações alarmantes, as notas soberanas de crédito ainda têm o selo de grau de investimento. A sua retirada poderia tornar a situação ainda mais grave, já que muitos fundos, com obrigação de investir em paises com notas de grau de investimento, teriam que bater em retirada.

O Ibovespa segue em tendência de baixa de curto prazo e ainda reserva uma região de sustentação psicológica muito importante no curto prazo que é a região de suporte entre os 47.300 até os 45.000. Isto porque nesta região passa uma média móvel exponencial de 610 períodos (MME610) que serviu de sustentação (suporte) para todas as crises que o mercado brasileiro já viveu em toda a história. Portanto, dá para prever que a sensação de pânico poderá se instaurar com a perda dos 45.000 pontos.

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O gatilho técnico para toda esta movimentação e percepção ainda maior do risco está na volatilidade histórica do Ibovespa. Conforme o gráfico abaixo, estamos em níveis de volatilidade pré “rally eleitoral”. Veja que as curvas de volatilidade mais longas de 50 e 100 períodos já inflexionaram para cima.

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No momento em que a curva de volatilidade histórica de 30 períodos superar as duas últimas teremos um ambiente perfeito para o estresse, descontrole psicológico e movimentos exacerbados, o famoso “corram para as colinas”. Eu, sinceramente, torço para que não.

Abraços,

Raphael Figueredo





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